terça-feira, 23 de março de 2010

Fique por Dentro, para se prevenir! Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer (DA) pronuncia-se (AU-ZAI-MER) é uma doença degenerativa, progressiva que compromete o cérebro causando:diminuição da memória, dificuldade no raciocínio e pensamento e alterações comportamentais.

Definida por muitos como “mal do século”, “peste negra”, “epidemia silenciosa” etc. a DA é ainda pouco conhecida em nosso meio e tem efeito devastador sobre a família e o doente.

Tida como uma doença rara, conhecida erroneamente como “esclerose” pela população em geral, a doença de Alzheimer representa para a comunidade sério ônus social e econômico.

A DA pode manifestar-se já a partir dos 40 anos de idade, sendo que a partir dos 60 sua incidência se intensifica de forma exponencial. Existem relatos não documentados de DA aos 28 anos de idade.

Nos EUA, 70 a 80% dos pacientes são tratados em seus domicílios, demonstrando com clareza a importância da orientação para a família nas questões relativas aos cuidados e gerenciamento desses pacientes. O restante dos doentes está sob os cuidados de clínicas especializadas. 60% dos residentes em asilos apresentam alguma forma de demência.

Os sintomas mais comuns são: perda gradual da memória, declínio no desempenho para tarefas cotidianas, diminuição do senso crítico, desorientação têmporo-espacial, mudança na personalidade, dificuldade no aprendizado e dificuldades na área da comunicação.

O grau de comprometimento varia de paciente para paciente e também de acordo com o tempo de evolução da doença.

Na fase final o paciente torna-se totalmente dependente de cuidados.

ASPECTOS ECONÔMICO-SOCIAIS

Por ser uma doença crônica de evolução lenta (podendo durar até 20 anos) e somando-se o fato de que, nas fases avançadas, o paciente torna-se completamente dependente, incapaz por si só de alimentar-se, banhar-se ou vestir-se.

Cerca de 4 milhões e 500 mil de americanos, atualmente, são portadores de DA, que é responsável por 100.000 óbitos por ano sendo a quarta causa de morte em adultos.

Estima-se que no ano 2040, 12 a 14 milhões de americanos serão portadores de doença de Alzheimer.

O número de pacientes no Brasil é estimado em 1 milhão e 200 mil e de 18 milhões no mundo.

Em função do envelhecimento mundial global esse número aumentará dramaticamente e ,em 2025, serão 34 milhões de portadores sendo 2/3 em países em desenvolvimento.

Como se trata de doença que acarreta grande impacto no seio familiar e estimando-se em média 3 familiares direta ou indiretamente envolvidos, o número assustador de mais de 13 milhões de pessoas nos EUA são de alguma forma atingidos por essa verdadeira epidemia.

Devido a essa abrangência, a doença de Alzheimer ultrapassa as fronteiras da medicina, para se converter num problema de ordem econômico-social, com particular e especial repercussão no núcleo familiar.

No Brasil, não temos dados estatísticos concretos sobre a doença, porém podemos afirmar que a presença da doença de Alzheimer também é significativa em nosso país atingindo cerca de 1 milhão e 200 mil brasileiros.

Sabe-se que, a partir dos 65 anos, de 10 a 15% dessa população será afetada e que a partir dos 85 anos, praticamente a metade dos indivíduos apresentará a doença.

Sabendo que a família média brasileira é composta de 3 a 4 pessoas, somos remetidos a cifras assustadoras, uma vez que desse modo a doença de Alzheimer atinge direta ou indiretamente mais de 4 milhões de indivíduos no nosso pais.

Esse contingente enorme de pacientes indefesos e dependentes de cuidados diuturnos cresce constantemente e inexoravelmente devendo merecer especial atenção das autoridades responsáveis pela saúde pública.

Negar esses dados é negar a realidade.

As alterações geradas dentro da família são de tal dramaticidade que se impõe à necessidade urgente de se implementarem medidas de apoio, tanto para o doente como para seus familiares.

Ao contrário de certos países europeus e nos EUA, não temos planos para o enfrentamento dessa grave questão. Apenas algumas iniciativas tímidas e isoladas têm sido verificadas.

Só nos EUA existem mais de 1.000 grupos de suporte familiar oficiais e 207 associações com ações

Que fatores ou situações predispõem o indivíduo a ser acometido pela doença de Alzheimer?

Essa pergunta tem sido objeto de muitos estudos e pesquisas em todo o mundo.
Diversos autores têm se ocupado desse tema e determinadas constatações estão bem esclarecidas e fundamentadas.
O único fator de risco bem conhecido e aceito universalmente é a idade. Aceita-se que a doença de Alzheimer seja uma doença idade-dependente, ou seja, à medida que a idade avança, maior é a probabilidade de sua ocorrência.
Esse fato é tão bem estabelecido que alguns autores têm questionado se a doença de Alzheimer não seria nada mais que um processo de envelhecimento acelerado, exacerbado e de aparecimento prematuro.
Parece claro que a doença de Alzheimer (DA) não tem uma única causa,sendo provavelmente devida a uma combinação de fatores genéticos e ambientais.
Estamos começando a entender alguns desses fatores a partir dos resultados de inúmeros ensaios dedicados a definir a causa e os fatores de risco para a DA.

IDADE

Alguns estudos demonstraram que, enquanto a incidência aos 80 anos é de aproximadamente 20%, aos 85 anos é de 40%, ou seja, o dobro em 5 anos.
A idade continua sendo o único fator de risco inquestionável e, se a demência tem início antes dos 75 anos, os fatores mais prováveis são: história familiar prévia e síndrome de Down.
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. No Brasil estamos assistindo esse fato cada vez com maior impacto, o que vai resultar no aumento dramático da freqüência de doença de Alzheimer no nosso meio.

SEXO

Estudos sugerem fortemente que as mulheres sejam mais afetadas do que homens mas, como a expectativa de vida das mulheres é pelo menos 5 anos maior que dos homens essa correlação ainda precisa ser estatisticamente ajustada e melhor esclarecida.

ESCOLARIDADE

O nível de educação parece ser uma proteção para a doença de Alzheimer:quanto maior o número de anos de estudo formal menor seria o risco.
Essa possibilidade deve ser analisada com reserva a partir da constatação de que pessoas com mais escolaridade administram suas limitações cognitivas com maior facilidade que analfabetos ou com baixo nível de escolaridade.
A plasticidade neuronal também pode estar implicada nesse processo.

Sintomas e Estágios:

Uma grande preocupação que temos observado nos cuidadores diz respeito ao estadiamento da doença. A pergunta: em que fase está à doença? É freqüentemente feita.

Vários estudos enfocando esse assunto foram realizados e existem várias propostas de estadiamento, porém os estudos clínicos de Sjoren que faz a divisão entre demência inicial, intermediária, final e terminal serão aqui utilizados.

Em média, de acordo com as estatísticas, 95% dos pacientes falecem nos primeiros 5 anos, no entanto conhecem-se casos com 10, 15 e até com mais de 20 anos de evolução.

FASE INICIAL
Sem dúvida, é a mais crítica das fases, uma vez que determinados sintomas iniciais são indulgentemente suportados e explicados pelos familiares como “parte do processo natural do envelhecimento” e dessa forma subvalorizados, protelando-se a investigação diagnóstica.

É consenso que, se bem que não haja tratamento curativo para a doença de Alzheimer, o diagnóstico precoce é fundamental no retardamento do aparecimento de complicações e na instituição imediata da terapêutica farmacológica disponível.

É, portanto, de vital importância que os sintomas iniciais sejam valorizados, na tentativa de se estabelecer um diagnóstico de probabilidade o mais precocemente possível, o que infelizmente não é o observado na prática diária.

Teoricamente essa fase dura de 2 a 4 anos.

O começo das alterações é lento e o paciente, especialmente os de bom nível intelectual e social, adaptam-se a determinadas deficiências com alguma facilidade fazendo com que não se perceba ou não se valorizem demais determinadas alterações. A intimidade do dia-a-dia, a vida atribulada das grandes cidades, entre outros fatores, especialmente as de origem sócio-cultural, colaboram com a aceitação pelos familiares de determinadas perdas e alterações comportamentais, especialmente quando se trata de pacientes idosos.

A primeira e mais característica marca do início da doença está relacionada com o comprometimento da memória recente ou de fixação. Essas alterações não são constantes e se apresentam como falhas esporádicas de memória que se repetem com freqüência variável, sem constância.

Nesta fase, também iniciam-se os episódios de desorientação espacial, especialmente em lugares desconhecidos podendo também ocorrer alterações na orientação temporal.

Todas essas alterações, no entanto, como não se repetem com freqüência preocupante, são entendidas como fato natural, em virtude do avanço da idade, nervosismo e outras desculpas relacionadas com o cotidiano.

As alterações comportamentais costumam acompanhar essa evolução e, lenta e gradualmente, vai havendo uma mudança no padrão habitual de comportamento.

Dois grupos de comportamento são bastante conhecidos, um pela apatia, passividade e desinteresse e outro onde a irritabilidade, egoísmo, intolerância e agressividade são características. Indivíduos gentis tornam-se rudes e agressivos, egoístas e obstinados, desagradáveis e inflexíveis.

Nos casos onde a apatia é predominante, é imprescindível que se faça um diagnóstico diferencial com depressão (pseudodemência) e com a doença de Pick.

Costuma-se dizer que a doença de Alzheimer enfatiza as características da personalidade prévia, especialmente as negativas.

A associação freqüente de sintomas depressivos com a doença de Alzheimer está comprovada.

As alterações da memória e da orientação espacial causam estados depressivos que se manifestam por apatia e desinteresse pelas tarefas e atividades até então normalmente desempenhadas e inseridas no cotidiano recente.

Essa alteração do estado de ânimo tem sido associada com a percepção que o indivíduo tem de suas dificuldades, que tendem a se agravar, nunca apresentando melhora.

O tratamento medicamentoso da depressão melhora substancialmente o quadro demencial. Os sintomas mais marcantes dos estados depressivos são a apatia ou agitação, alteração do sono com insônia e inapetência.

A hipocondria também se agrava. Passam a valorizar mais o seu próprio corpo e fazem uma verdadeira peregrinação pelos consultórios, com queixas vagas e inconsistentes.

As alterações de comportamento e conduta costumam ser desencadeadas por algum fato concreto. Esse fato pode estar ligado ao ambiente, mudanças bruscas de costumes e situações estressantes. Como resposta a esses estímulos, os pacientes reagem desproporcionadamente com relação ao fato em si, tornam-se irrequietos, xingam, chegando até à agressão física.

Essa fase é muito difícil para quem convive com o paciente pois, em virtude dos períodos de bom convívio, bom desempenho social e intelectual e aparente boa saúde física, as explosões de ânimo ou as mudanças bruscas e inexplicáveis de comportamento são altamente angustiantes.

A dificuldade de comunicação também pode estar presente, com dificuldades em encontrar as palavras adequadas. A duração das frases se altera e apresentam dificuldades com a gramática.

Os distúrbios do sono, com inversão de horários e as alterações com o pensamento abstrato podem se manifestar já na fase inicial, marcando uma fronteira na passagem para a fase intermediária.


FASE INTERMEDIÁRIA

Pode durar de 3 a 5 anos e caracteriza-se fundamentalmente pelo agravamento dos sintomas apresentados na fase inicial.

Esta fase está correlacionada com o comprometimento cortical do lobo parietal afetando as atividades instrumentais e operativas.

Instala-se nesta fase as afasias (perda do poder de expressão pela fala, pela escrita ou pela sinalização ou da capacidade de compreensão da palavra escrita ou falada e sem alteração dos órgãos vocais), as apraxias (incapacidade de executar os movimentos apropriados para um determinado fim, contanto que não haja paralisia) e as agnosias (perda do poder de reconhecimento perceptivo sensorial, auditivo, visual, táctil etc.)

Outra característica que marca a fase intermediária tardia é o início das dificuldades motoras.

A marcha pode estar prejudicada, com lentificação global dos movimentos, aumento do tônus muscular, diminuição da massa muscular e conseqüentes reflexos na aparência física pelo emagrecimento. As diminuições dos movimentos dos membros superiores ao andar e instabilidade postural são as alterações mais encontradas.

As queixas de roubo de objetos e de dinheiro, total desorientação têmporo-espacial, dificuldades para reconhecer cuidadores e familiares, suspeita de conspiração para ser enviado a um asilo e o desenvolvimento de atividades totalmente desprovidas de objetivos (abulia cognitiva) são características da fase intermediária.

É comum apresentarem-se quadros de agitação e alucinações, que acometem praticamente a metade dos pacientes demenciados.A agitação psicomotora, ilusões e as alucinações relacionam-se diretamente com o grau de severidade da demência.

Uma advertência necessária: apesar de que estas manifestações possam fazer parte da evolução da doença de Alzheimer, é imperativo fazer-se a distinção entre a evolução natural da instalação destas alterações com doenças subjacentes que possam estar intercorrendo.

A repetição de frases e palavras, sem interrupção e sem nexo também costuma estar presente.

As frases, via de regra, são curtas, incompreensíveis e mal construídas.

Perdem nessa fase a capacidade de ler e de entender o que lhes é dito ou pedido, especialmente se recebem ordens complexas ou perguntas com opção de respostas. O paciente pode responder afirmativamente a uma pergunta do tipo: “Você quer uma maçã?”, porém encontrará dificuldade de se decidir, se for perguntado se quer uma maçã ou uma laranja. Ao invés de responder ou tentar decifrar o enigma que se apresenta para ele, costuma ignorar e continuar da mesma maneira que se comportava imediatamente antes de ser questionado.

A iniciativa está abolida ou seriamente prejudicada. O paciente não costuma perguntar ou solicitar objetos e/ou ações. O vocabulário estará na maioria das vezes limitado a poucas palavras e à medida que evolui para a fase final fica ainda mais restrito, passando a utilizar apenas as palavras básicas.

Desenvolvem nessa fase grande sentimento de possessividade.

A dificuldade em aceitar novas idéias ou mudanças traduz-se por agitação psicomotora e agressividade.

Perdem nessa fase a capacidade de cálculo, pensamento abstrato e de julgamento. A apatia e inafetividade também se manifestam ou se agravam.

A memória anterógrada também estará prejudicada, a vagância geralmente associada à confabulação (falar só) se instala.

O fato de falar só é teorizado por alguns autores como uma tentativa de manter um elo com a realidade através de algumas recordações antigas.

Pode se perder, mesmo dentro de casa, uma vez que sua concentração e sua orientação no tempo e no espaço estão já a essa altura bastante prejudicadas.

As tarefas solicitadas verbalmente dificilmente são atendidas.

Os tremores e movimentos involuntários costumam ser observados, especialmente os tremores de extremidades e movimentos bucolinguais.

Nesta fase o paciente já se encontra em total estado de dependência, necessitando de supervisão e cuidados diuturnos.

Podem, em alguns casos, realizar determinadas tarefas extremamente simples, porém são incapazes de sobreviver sem ajuda.


FASE FINAL

A duração desta fase varia de acordo com alguns fatores.

Quanto mais cedo a doença se instala mais rápida costuma ser a evolução.

Outro fator determinante, não apenas nesta fase, como também na fase inicial e intermediária, diz respeito aos aspectos preventivos e aos cuidados recebidos pelos pacientes. Pacientes bem cuidados,que foram tratados com os medicamentos adequados e tiveram boa orientação familiar apresentam uma melhor qualidade de vida e o aparecimento de complicações é significativamente mais tardio.

Pacientes que apresentam, já na fase inicial distúrbio de linguagem, alucinações e manifestações como tremores e movimentos involuntários costumam evoluir pior e mais rapidamente.

Nesta fase a memória antiga estará bastante prejudicada e às vezes totalmente comprometida. A capacidade intelectual e a iniciativa estarão seriamente prejudicadas ou totalmente deterioradas. O estado de apatia e prostração, o confinamento ao leito ou à poltrona, a incapacidade de se expressar, quer por fala ou mímica e especialmente a incapacidade de sorrir são características desta fase.

As alterações neurológicas se agravam: a rigidez aumenta consideravelmente e os movimentos estarão lentificados e por vezes estereotipados.

As convulsões, assim como o aparecimento de tremores e de movimentos involuntários, também são mais freqüentes nesta fase.

A indiferença ao ambiente e a tudo que o cerca, alternadas com alto grau de agitação psicomotora e o aparecimento de incontinência urinária e fecal trazem, nesta fase, grande carga de cuidados. O paciente torna-se totalmente dependente, podendo chegar à manipulação de fezes e a coprofagia.

Quando os indivíduos ainda possuem alguma reserva motora, as quedas acidentais com fraturas ocorrem com maior freqüência.

Passam a não reconhecer as pessoas mais próximas e podem até mesmo não se reconhecerem quando colocados em frente ao espelho.

Podem apresentar hiperfagia, aparecem as úlceras por pressão, devido a permanências no leito ou poltrona, por longos períodos de tempo, mesmo adequadamente cuidados.

Invariavelmente, caminham para um estado de acamamento com suas previsíveis e temíveis complicações, marcando assim a transição para a fase terminal.


FASE TERMINAL

Esta fase caracteriza-se por restrição ao leito/poltrona, praticamente durante todo o tempo.

Acabam por adotar a posição fetal. As contraturas dos membros inferiores tornam-se inextensíveis e irrecuperáveis. Os membros superiores adotam posição fletida junto ao tórax e a cabeça pende em direção ao peito. A coluna também se flexiona e o paciente adota uma posição conhecida como paraplegia em flexão ou posição fetal.

August D.

Podem surgir lesões nas palmas das mãos, por compressão destas pelos dedos flexionados; grandes úlceras por pressão, preferencialmente localizadas nas regiões trocantéricas, maléolos externos, região sacra, cotovelos, calcanhares e até mesmo nos pavilhões auriculares; incontinência urinária e fecal, total indiferença ao meio externo (só respondendo a estímulos dolorosos); mutismo e estado vegetativo.

Alimentam-se por sucção, sendo muitas vezes necessário o uso alternativo de alimentação enteral.

Na metade dos casos a morte sobrevém em um ano, devido a processos infecciosos, cujos focos preferenciais são o pulmonar e o urinário.

É importante ressaltar que, mesmo com os cuidados adequados, alguns pacientes acabam por atingir essa triste condição, porém é certo também que se os cuidados forem adequados isso deverá ocorrer mais tardiamente.

SUBTIPOS

São conhecidos quatro subtipos de doenças de Alzheimer que se relacionam com a evolução.

a) Benigno, cuja característica principal é a evolução lenta

b) Mioclônico (movimentos involuntários), apresentam evolução rápida, com mutismo precoce

c) Extrapiramidal, onde o declínio das funções operativas e intelectuais associa-se com marcantes alterações psicóticas

d) Típico, evoluem com deterioração gradual sem outros sinais característicos

CONCLUSÃO

Esta divisão por fases tem efeito didático e é estabelecida através de escores e métodos de valoração da dependência.

Não há fronteiras bem definidas entre elas e alguns pacientes costumam evoluir de maneira bastante particular.

A duração das fases e a sobrevida destes pacientes são bastante variáveis. Acredita-se que a sobrevida em geral duraria em torno de 5 a 8 anos, porém conhecem-se casos com mais de 20 anos de evolução.

Para se explicar essas diferenças com relação à gravidade da evolução, alguns aspectos devem ser levados em conta.

O primeiro estaria diretamente ligado à qualidade dos cuidados prestados ao paciente e a terapêutica adequada introduzida precocemente retardando o aparecimento das complicações previsíveis e aumentando significativamente não apenas a quantidade de vida como também a sua qualidade.

O segundo estaria ligado a características da própria doença, de acordo com os subtipos da doença de Alzheimer.

Síntese dos Sintomas – Fases

Na fase inicial os sintomas mais importantes são:

- perda de memória, confusão e desorientação.
- ansiedade, agitação, ilusão, desconfiança.
- alteração da personalidade e do senso crítico.
- dificuldades com as atividades da vida diária como alimentar-se e banhar-se.
- alguma dificuldade com ações mais complexas como cozinhar, fazer compras, dirigir, telefonar.

Na fase intermediária os sintomas da fase inicial se agravam e também pode ocorrer:

- dificuldade em reconhecer familiares e amigos.
- perder-se em ambientes conhecidos.
- alucinações, inapetência, perda de peso, incontinência urinária.
- dificuldades com a fala e a comunicação.
- movimentos e fala repetitiva.
- distúrbios do sono.
- problemas com ações rotineiras.
- dependência progressiva.
- vagância.
- início de dificuldades motoras.

Na fase final:

- Dependência total.
- Imobilidade crescente.
- Incontinência urinária e fecal.
- Tendência em assumir a posição fetal.
- Mutismo.
- Restrito a poltrona ou ao leito.
- Presença de úlceras por pressão (escaras).
- Perda progressiva de peso.
- Infecções urinárias e respiratórias freqüentes.
- Término da comunicação.

Na fase Terminal

- Agravamento dos sintomas da fase final
- Incontinência dupla
- Restrito ao leito
- Posição fetal
- Mutismo
- Úlceras por pressão
- Alimentação enteral
- Infecções de repetição
- Morte

Tratamento Sintomático

Em um simpósio durante o “World Alzheimer Congress” em 2000, Jeffrey L. Cummings, Professor de Neurologia e Diretor da Director da Faculdade de Medicina da UCLA “School of Medicine Alzheimer's Disease Center” em Los Angeles, apresentou um trabalho demonstrando que na população atendida em seu serviço a ocorrência desse distúrbio era extremamente comum e declarou que ser esse um dos maiores desafios no tratamento correto dos pacientes com DA.

Felizmente, mesmo com a falta de estudos sólidos, a maioria desses distúrbios podem ser controlados com a medicação disponível.

À medida que a doença evolui, comprometendo cada vez mais a cognição e a funcionalidade, os distúrbios comportamentais acabam por atingir cerca de 90% dos pacientes. Estados de agitação psicomotora afetam a metade deles. Vagância, agressividade, ansiedade e alucinações são comuns e determinam muitas vezes que esses pacientes sejam institucionalizados.

Depressão, inapetência, insônia e irritabilidade também são comuns. O uso de antidepressivos sempre deve ser considerado, mesmo em pacientes que não apresentam quadros clássicos.

O tratamento correto dessas alterações são muito importantes e melhoram significativamente a qualidade de vida não só do paciente como também dos que estão envolvidos em seus cuidados no cotidiano.

De uma maneira geral, os sedativos potentes e de meia vida longa devem ser evitados pois podem piorar muito o quadro e por vezes apresentam efeito paradoxal.

Drogas antipsicóticas devem ser usadas em dosagens seguras e suficientes para controlar crises de agressividade e vagância noturna. A escolha da droga vai depender dos efeitos colaterais, histórico da resposta anterior do paciente e também da experiência do médico com o manejo do medicamento.

Algumas vezes vemos pacientes recebendo drogas antipsicóticas em altas doses e que por essa razão também recebem drogas antiparkinsonianas, o mais comum é o biperideno com potente ação anticolinérgica. Deve-se questionar essa associação uma vez que existem alternativas mais lógicas e seguras.

Os ansiolíticos devem ser evitados e de preferência tentar inicialmente abordagens não medicamentosas. Só se essas tentativas fracassam ou não são viáveis deve-se utilizar benzodiazepínicos e de curta ação como o lorazepan (Lorax) por apresentar menos efeitos colaterais. Diazepínicos de longa duração como diazepan e flurazepan, devem ser evitados.

Alguns clínicos relatam boa efetividade e segurança no uso de drogas anticonvulsivantes para tratar agitação e agressividade como a carbamazepina (Tegretol).

DELUSIONS (Ilusões)

Não existe uma boa palavra em português para definir corretamente esse sintoma. Conhecemos e identificamos esse distúrbio como, fantasia, paranóia, etc.

Essa dificuldade de definição do termo tem sido objeto de muita polêmica e de artigos médicos, que discutem os critérios utilizados na conceituação desse sintoma. Simplesmente dizer que a pessoa “imagina coisas que não existem”, é insuficiente.

Pessoas que comungam crenças religiosas, culturas diversas e exóticas, realmente acreditam em certas coisas que outras não acreditam, e nem por isso devem ser rotuladas de “um sintoma”.

A sensação de estar sendo seguido, perseguido, ameaçado sexualmente, ameaçado de morte, de que “aquelas pessoas conversando estão conspirando, falando mal de mim” fazem parte dessa manifestação clínica. Em uma perspectiva histórica, August D., a primeira paciente, apresentou como primeiro sintoma, uma crise infundada de ciúmes de seu marido.

Estudos mostram que esse problema é muito freqüente afetando de 25 a 50% dos pacientes com DA. Essa manifestação normalmente apresenta-se associada com alucinações, agitação e reações catastróficas.

O uso de antipsicóticos pode melhorar muito esse sintoma, nunca se esquecendo de seus potenciais efeitos colaterais.

Apenas dois mas, excelentes estudos, com desenho, multicêntrico, duplo-cego, placebo-controlado, de pacientes com essa sintomatologia, estudaram a eficácia de drogas antipsicóticas.

O primeiro ensaio concluiu que com o uso da risperidona com doses de 1 a 2mg, o controle do distúrbio era superior do observado nos placebos porém isso não ocorria com doses de 0,5mg .

No segundo estudo, os pesquisadores examinaram os efeitos da olanzepina (Zyprexa) em pacientes com esse sintoma e com alucinações e agitação. Eles concluíram que os sintomas eram controlados com doses de 5 ou 15mg mas os resultados também demonstraram que só com a dose de 15mg a eficácia era melhor quando comparada com os placebos.

AGITAÇÃO
A agitação é o distúrbio de comportamento mais comum afetando mais de 75% dos pacientes com DA e que aumenta sua freqüência à medida que a doença evolui.

A agitação costuma cursar com ansiedade, ilusões e irritabilidade. Nunca é demais relembrar a possibilidade de estarmos diante de um quadro que tem uma causa, um motivo, podendo ser desde dores, medicamentos ou fatores ambientais. Pacientes com DA não conseguem expressar o que sentem, frio, calor, fome, sede, dor, etc. Infecções do trato urinário também podem levar a esse quadro.

Cabe aqui um parêntese e um alerta. Não é raro que, os familiares de pacientes com agitação, ou os responsáveis pelas “casas de repouso”, pressionem o médico para medicar ou aumentar a dose de sedativos, muitas vezes pelo telefone, isso quando não decidem aumentar por conta própria com conseqüências muitas vezes dramáticas. Essa angústia é facilmente entendida mas, se não temos oportunidade de examinar o paciente entendemos que devemos resistir a essa pressão. O vínculo, familiar – médico, deve ser de confiança. Os dois precisam saber que o que estamos às vezes negando é para o bem do paciente.

Numerosas drogas são utilizadas para controlar a agitação.

Antipsicóticos, ansiolíticos e anticonvulsivantes além dos antipsicóticos “atípicos” como a risperidona (Risperdal) que recebem essa denominação por não apresentarem efeitos anticolinérgicos graves, entretanto só os antipsicóticos atípicos e os anticonvulsivantes demonstraram ser eficazes em ensaios duplo-cegos, placebo-controlados.

Em um estudo, doses flexíveis (0.5 a 4,0 mg/dia) de risperidona foram significativamente superiores aos placebos em pacientes, mostrando melhores pontuações na avaliação feita a partir do “Cohen-Mansfield Agitation Inventory”; doses similares de haloperidol não foram positivas.

Desde que o uso de haloperidol (Haldol) representa uma perda de 2 pontos no Mini-Exame do Estado Mental (Folstein),além dos efeitos anticolinérgicos pronunciados, parece que o uso dos antipsicóticos atípicos são mais indicados como primeira opção.


No estudo citado anteriormente, a olanzapina-neuroléptico tienobenzodiazepínico-(Zyprexa) na dose 5 ou 10mg, reduziu a agitação avaliada pelo “Neuropsychiatric Inventory” em 4 pontos, o dobro do benefício verificado com o uso de placebo. Entretanto mais uma vez a dose de 15mg não demonstrou eficácia, reforçando a possibilidade dessa droga ter uma “janela terapêutica”.

Enquanto não existe uma base neuroanatômica para o entendimento da agitação relacionada com a DA, Dr Cummings, naquele mesmo congresso, relatou que ele e seus colegas haviam identificado alguns fatos animadores :

“Examinamos algumas amostras de material obtido por necrópsia de pacientes com DA confirmada e aí fizemos uma retrospectiva com os dados do” Neuropsychiatric Inventory, “Encontramos, nos pacientes com histórico de agitação, uma quantidade muito maior de novelos neurofibrilares no lobo frontal quando comparado com os que tinham DA mas que não apresentavam agitação”.

'A parte remanescente do córtex frontal estava preservada e o número de placas amilóides não era diferente entre esses dois grupos'.

'Acho que não estamos muito longe de entender a neurobiologia dos distúrbios de comportamento na doença de Alzheimer “, concluiu.

DEPRESSÃO

Comparada com os sintomas psicóticos, a depressão maior, é menos freqüente na DA, afetando de 6 a 10% dos pacientes. Entretanto cerca de 40% apresentam “sintomas depressivos”, que podem piorar seriamente a dependência funcional. Esse é mais um motivo que nos leva a tratar esses pacientes, não apenas pela alteração do humor,como também na preservação e até melhoria do estado funcional.

Acreditamos que mais do que 40% dos pacientes apresentam esse transtorno afetivo e, quando corretamente medicados, apresentam sensível melhora de um modo geral.

Atualmente, a maioria dos pacientes com DA são medicados com os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), que só é descontinuada se após 4 meses o paciente não apresentar benefício significativo.

Muitas vezes, após a retirada da medicação, observa-se um declínio importante tanto na cognição como nas atividades básicas e/ou instrumentais da vida diária o que determina a reintrodução da droga.

Os antidepressivos tricíclicos devem ser evitados por sua marcada ação anticolinérgica.

Poucos estudos bem controlados investigaram essa questão com profundidade e os raros publicados mostraram redução dos sintomas depois de seis semanas de tratamento justificando essa conduta.

Alguns clínicos iniciam sua estratégia terapêutica prescrevendo esse tipo de medicação antes de introduzir o tratamento específico.

Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina são a classe de escolha por apresentarem menos efeitos colaterais; paroxetina (Aropax) , sertralina (Zoloft), citalopran (Cipramil), fluoxetina (Prozac) quando comparados com os tricíclicos que devem ser evitados por seu pronunciado efeito anticolinérgico.

A escolha da droga vai depender do perfil que se quer atingir pois algumas têm ação sedativa e ansiolítica enquanto que outras não apresentam essas características. Alguns antidepressivos interagem com alguns anticolinesterásicos devendo merecer uma avaliação quando da indicação.

ANTICOLINESTERÁSICOS

Se bem que os inibidores na colinesterase sejam tipicamente indicados por seus efeitos cognitivos, eles também auxiliam no controle dos distúrbios de comportamento.

Embora as evidências que apóiam o uso para esse fim sejam quase sempre indiretas existem algumas maneiras de entender o impacto que essas drogas causam.

Estudos epidemiológicos demonstraram que por exemplo; pacientes com DA que estavam sendo medicados com donepesila, usavam muito menos antidepressivos, antipsicóticos e ansiolíticos quando comparados com os que não usavam o anticolinesterásico. Esse fato ilustra bem o efeito que essas drogas possuem sobre o comportamento dos pacientes com DA.

Dentre alguns ensaios semelhantes, um deles mostrou que pacientes com DA que estavam internados em uma “Nursing Home”, com no mínimo 3 pontos no “Neuropsychiatric Inventory”, receberam rivastigmina. Na 52ª semana, o nível de distúrbios de conduta e de alteração de humor, apatia, ilusão, alucinações e abulia cognitiva, haviam diminuído sensivelmente. Foi surpreendente verificar que a medicação não teve nenhum efeito sobre a agitação demonstrando a heterogeneidade clínica desses sintomas assim como da variedade da resposta farmacológica.

A combinação dessas drogas é muitas vezes necessária para se atingir o objetivo do tratamento porém, não se deve perder de vista que a maioria desses pacientes são idosos, que recebem outros medicamentos para o controle de doenças concomitantes e que assim a interação medicamentosa é esperada e deve ser evitada.

Zacharias -Michelangelo

A população mais afetada pela DA pertence à faixa etária geriátrica devendo-se portanto levar em conta as peculiaridades clínicas desse grupo especial de pacientes.

A farmacocinética e a farmacodinâmica modificam-se com o processo de envelhecimento. Vários sistemas apresentam desempenho funcional diminuído alterando a absorção, distribuição e metabolismo das drogas. Isso ocorre especialmente no trato gastrintestinal, renal, hepático, na relação gordura/músculo, nível de albumina e hipersensibilidade de receptores a certas substâncias aumentando a possibilidade de interação.

Algumas regras sempre são úteis quando se prescreve para pacientes idosos: iniciar com doses pequenas e ir aumentando devagar, introduzir uma medicação por vez e evitar ao máximo a polifarmácia.

Nunca esquecer que drogas com efeito sedativo podem levar à hipotensão ortostática resultando em quedas, levando a fraturas de fêmur com suas complicações, limitações e muitas vezes à morte.

É essencial que o médico, os familiares e o cuidador estejam em permanente contato, agindo em conjunto, para que o paciente possa estar protegido de iatrogenias por falta de orientação além de fornecer informações corretas para que o tratamento possa ir sendo ajustado de acordo com o caso.

Os familiares e cuidadores devem estar informados sobre o curso e da evolução esperada da doença.

Saber com antecedência o que pode ocorrer e o que se pode esperar em termos de resultados da terapêutica adotada, diminui a ansiedade, o medo do desconhecido e colabora com um padrão melhor de cuidados.

A informação associada com a solidariedade ainda é a arma mais poderosa no enfrentamento dessa grave questão de saúde pública.

Pietà - Michelangelo

Fonte:
http://www.alzheimermed.com.br

By Ev. Miriam

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